Apesar de
no dia seguinte se sentir melhor, a sensação de que algo estava errado com o
seu corpo e a sua mente não abandonou Adam. Pelo contrário, intensificou-se.
A meio da jornada de trabalho,
disse ao supervisor que não se sentia bem e foi-se embora. Caminhou pela
cidade, sem rumo, e ao passar por uma livraria, um impulso irresistível
atirou-o para o seu interior em busca de um livro.
— Posso ajudá-lo? — perguntou uma das
funcionárias.
— Estou à procura de um livro
chamado Cyberiada.
— Sabe o nome do autor? —
perguntou a jovem, encaminhando-se para o computador.
— Stanislav Lem — respondeu Adam,
sem hesitar.
Quando a funcionária regressou do
armazém com dois exemplares do livro, Adam olhou para ela como se nunca a
tivesse visto na vida.
— O que é isso? — perguntou,
confuso.
— O livro que me pediu. Um na
edição original, em polaco, e uma edição em inglês.
— Eu não lhe pedi nenhum livro...
Onde estou? Devia estar a trabalhar a esta hora, posso ser despedido...
Adam segurou a cabeça com as duas
mãos, como se receasse que ela fosse explodir, e cambaleou para trás,
derrubando expositores e chocando com os clientes que por ali andavam a
percorrer as lombadas dos livros com os olhos.
— Não fui eu que pensei isto, não
fui eu que pensei isto, se não fui eu que pensou isto, quem foi que pensou por
mim...?
— O senhor sente-se bem? —
perguntou a funcionária, pousando os livros no balcão e acercando-se de Adam. —
Quer que chame uma ambulância?
Tropeçando nos livros, Adam
desequilibrou-se e caiu de costas no chão, pontapeando o ar e gritando que
saíssem da sua cabeça, que doía e ele não aguentava mais.
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